LUIZ GAMA

Luiz Gama, s/d. Biblioteca Nacional, Seção Iconografia.

Elciene Azevedo

Universidade Estadual de Feira de Santana


Luiz Gonzaga Pinto da Gama, ou simplesmente Luiz Gama, como ficou mais conhecido, foi um dos grandes advogados do Brasil oitocentista, militante do movimento pela abolição da escravidão e da Monarquia no país. Ex-escravo e auto didata, se fez notar no universo dos homens de letras de São Paulo do século XIX, ao publicar livro de poesias e escrever em jornais que fundou ao lado de estudantes da Academia de Direito, ou nas folhas de grande prestígio da capital da província e da corte. Maçon e antimonarquista, esteve presente na fundação do Partido Republicano Paulista reforçando sua ala mais jacobina, e tornou-se figura pública das mais proeminentes de seu tempo.

Nasceu em Salvador, Bahia, em um sobrado da rua do Bângala, perto do adro da Palma, em 21 de julho de 1830. Filho de Luiza Mahin, africana livre nagô de nação, pagã, quitandeira, que teria sido inúmeras vezes presa por suspeita de estar envolvida em insurreições escravas. Em 1837, depois da Sabinada, foge para o Rio de Janeiro, ficando o filho aos cuidados do pai, um “fidalgo” pertencente a uma importante família baiana. Gama o descreve como um homem rico, porém amante “das súcias” e “divertimentos”, que lhe consumiram uma herança e o deixaram na pobreza. Foi o pai quem o vendera como escravo aos 10 anos de idade em uma transação ilegal, uma vez que era filho de ventre livre, mas necessária para pagar “dívidas de jogo”. Vítima do tráfico interprovincial, ainda menino acabou escravizado na cidade de São Paulo, onde aprendeu a ser copeiro, sapateiro, a lavar, engomar e costurar roupas, tarefas típicas exercidas por escravos urbanos domésticos. Aos 17 anos, depois de alfabetizar-se com as lições de um hóspede da casa de seu senhor e conseguir provas de sua escravização ilegal, encontra os caminhos da liberdade entre o funcionalismo público e o exercício da advocacia.

No ano de sua morte, em 1882, Luiz Gama avaliava ter alforriado mais de 500 escravizados por meio de ações cíveis de liberdade na Justiça. Dois anos antes, porém, sua pena deixava marcas bem menos moderadas nas folhas de um dos jornais mais importantes da capital da província. Em artigo no qual comentava a notícia que vinha do interior a respeito de quatro escravos que, depois de assassinarem o filho do fazendeiro Valeriano José do Vale e se entregarem à polícia, haviam sido na mesma noite linchados pela população revoltada que cercara a delegacia, o advogado condenava não os escravos que cometeram o crime, mas os cidadãos que chamava de “assassinos”. Os escravos eram “heróis”, eram “quatro Spartacus”, lutando pelo direito natural à liberdade.

Para Luiz Gama, a nação republicana não poderia existir sem que todos os brasileiros fossem livres e iguais, equidade que só se estabeleceria de fato através do reconhecimento de um crime de origem, a escravidão. Disso dependia a “regeneração nacional”, abraçar os de ascendência africana, sem preconceitos de origem ou discriminações raciais, como se seus filhos fossem, garantindo assim sua inclusão social e seu pleno direito à cidadania.

Busto de Luiz Gama em bronze com base em granito em meio ao Largo do Tanque
Imagem da rua Luiz Gama extraída do google maps
Na primeira imagem o busto de Luiz Gama que fica no Largo Praça do Tanque, no bairro de São Caetano, periferia de Salvador. O monumento foi inaugurado em 1951 (Foto: Marina Silva/CORREIO). Na segunda imagem, a rua Luiz Gama que fica no mesmo bairro.

Para saber mais:

Luiz Gama. Primeiras Trovas Burlescas de Getulino. Salvador: P55 Edições, 2011.

Elciene Azevedo. Orfeu de Carapinha: A trajetória de Luiz Gama na imperial cidade de São Paulo. Campinas: Ed. da Unicamp, 1999.

Ligia Fonseca Ferreira. Com a palavra, Luiz Gama. São Paulo: Imprensa Oficial, 2011.